#ENTREVISTA: Os editores Douglas Oliveira e Girotto Brito falam sobre o mercado editorial paranese
(Girotto Brito -- professor e editor paraense. Fotografia: Dri Trindade) |
Saudações, caríssimos leitores! Hoje vamos bater um papo virtual com os escritores e editores Douglas Oliveira (da Editora Folheando) e Girotto Brito (da Pará.grafo Editora), ambos de uma nova geração e que têm contribuído muito para o fortalecimento do cenário literário paraense. Tenho acompanhado o trabalho desses dois jovens editores e confesso que fiquei impressionado com o alcance que as editoras estão tendo em tão pouco tempo de atividade. Douglas, lançando e apostando em novos escritores. Girotto Brito, fazendo um trabalho excepcional de resgate de autores paraenses e trabalhos voltados para a Literatura de Expressão Amazônica, com a recém lançada antologia "Jaçanã: poética sobre as águas".
Para conhecer um pouco sobre a visão do mercado editorial de cada um, fiz algumas perguntas-chave, que agora compartilho com vocês:
* * *
(1) Sabemos que as editoras sediadas no Norte do Brasil enfrentam
diversas dificuldades do processo de editoração até o livro chegar nas
mãos do leitor. Quais são/foram as três principais pedras no caminho da sua editora?
DOUGLAS: A folheando teve algumas pedras no caminho, cito aqui as duas principais
– a terceira não é tão importante a ponto de ser citada: Distribuição
dos livros no cenário nacional e Gráficas locais com a mesma qualidade
das gráficas de fora.
GIROTTO: A pedra no caminho da Pará.grafo é a distribuição. Somos uma editora sediada no interior do Pará, Bragança, e levar os livros às livrarias é trabalhoso e na maioria das vezes não é vantajoso. Imagine ter que pagar caro no frete de uma determinada quantia de livros para levá-los a uma livraria de outro estado que cobra 60% sobre o preço de capa. Completamente inviável. Por isso buscamos fortalecer as vendas no site da editora e em parceiros locais, em Belém.
(2) Que caminhos vocês acham que a Literatura Amazônica deve trilhar para
que o público leitor brasileiro (e fora do Brasil) possa enxergá-la com
bons olhos, sem os preconceitos e estereótipos atuais?
DOUGLAS: O estereótipo ficou para a velha geração. A literatura produzida nos
dias atuais tenta se livrar desse estereótipo reconstruindo o fundo
narrativo regional. A exemplo disso temos escritores como Airton Souza
(Marabá), Alfredo Garcia (Belém), Ana Meireles (Belém), Marcos Samuel
Costa (Belém), Lenmarck Andrade e Ed Saraiva Jr (ambos de Belém), entre
tantos outros, produzindo uma nova literatura amazônica, mais acessível e
universal. Sobre quais caminhos o autor deve seguir, acredito que o
escritor deva priorizar o roteiro mais universalizado, focando na
construção do personagem, não exagerando na linguagem oral no texto,
desvencilhando-se do cenário regional carregado dos estereótipos que já
conhecemos. Há formas de narrar a Amazônia sem precisar condensar tudo
num único capítulo. Amazônia já não é mais imaginário, é realidade.
GIROTTO: O leitor do Norte sempre enxergou com bons olhos a literatura produzida aqui. O que devemos trabalhar com seriedade é a relação dessa literatura com o leitor do Sul e Sudeste do Brasil, onde ainda há muita resistência e falta de informação sobre o que se produz de literatura na Amazônia. Acredito que as editoras da nossa região precisam estar atualizadas, acompanhar as tendências do mercado, produzir literatura para a nova geração, publicar também em E-book, estar antenado com os Blogs, Vlogs e sites literários, fazer literatura atraente sem perder suas características essenciais. Hoje temos muitos escritores paraenses que formam público em outras regiões, justamente porque aprenderam a lidar e se comunicar com eles. Essa interação é importante. A literatura dialoga com o leitor, e esse diálogo deve deixar claro: "somos a Amazônia, mas somos também o mundo".
(3) Como vocês enxergam o mercado editorial na região Norte atualmente e que perspectivas vocês têm para a próxima década?
DOUGLAS: O mercado editorial na região Norte expandiu-se, ao mesmo tempo em que
algumas editoras passam por crises. Isso se dá pela leva de novos
autores que surgiram (e surgem) na região. Para próxima década tenho
duas hipóteses (perspectiva): a primeira é que os custos editoriais
deverão cair, fazendo com que o autor sinta-se motivado e atraído pela
publicação física (e isso é o que espero, para poder manter viva as
editoras locais), a outra é que haverá, sem dúvida, as editoras que irão
sucumbir por não conseguir acompanhar o mercado editorial, tanto em
preço quanto em conteúdo, e isso fará com que algumas dessas casas,
infelizmente, fechem as portas.
GIROTTO: Promissor. Das editoras mais velhas no mercado paraense restou somente a Paka-Tatu, do querido Armando Filho, que soube renovar sua forma de produzir e vender livros, e a Cromos, do cordelista Cláudio Cardoso, que administra o Estande do Escritor Paraense. Agora, três novas editoras surgiram fazendo uma puta diferença no mercado e no cenário literário: Pará.grafo, Folheando e Empíreo. Três pequenas editoras, mas com ideias originais e apostas ousadas. Eu diria que, longe de querer qualquer holofote, essa tríade, se continuar com seus bons projetos literários, somarão muito com a cultura e a literatura paraense.
(4) Vender literatura não é uma tarefa fácil, principalmente numa região
com tão poucas livrarias. Como vocês acham que se poderia fortalecer o
mercado livreiro no Pará?
DOUGLAS: Eis um ponto chave... Vender livros. No tempo em que os smartphones leem
PDF’s (baixados gratuitamente), e livrarias sucumbem. O segredo? Não
ter segredo. Hoje em dia o leitor quer se sentir próximo do autor,
conhece-lo, interagir com o mesmo. Isso faz toda a diferença; eis aí os
blogs literários que aproximam os autores dos leitores, uma garotada que
tem contribuído imensamente para a divulgação de uma obra (às vezes,
muito mais que a crítica). As redes sociais contribuem para isso, quem
não encontrar o livro na livraria, pode encontra-lo nas livrarias online
e nos sites das editoras. Temos a facilidade na ponta dos dedos, na
tela de um celular e no clique de um computador. É importante para o
autor ter essa interação. Feito isso, é continuar na labuta e colher os
frutos com o tempo certo.
GIROTTO: Realmente não é fácil vender livros. Acredito, no entanto, que uma mudança no modelo de comércio se faz necessária. Ainda hoje vendemos livros como se vende creme dental, colocamos numa prateleira e esperamos que alguém se agrade. Entendo que as mudanças de cultura nas últimas décadas exige mudanças também na forma como vendemos literatura. As livrarias devem tornar-se espaços culturais, com música, barzinho (ou café), com eventos literários e culturais frequentes, afim de estabelecer uma ligação mais forte com o público. Assim o livro deixa de ser visto como objeto, e passa a ser visto como ideia, já que estará sendo constantemente trabalhado dentro desse meio.
(5) Cite três editoras paraenses que você acredita que estão fazendo (ou fizeram) um bom trabalho.
DOUGLAS: Editora Paka-Tatu (nossa pioneira sob os cuidados do Sr Armando Alves
Filho);
Editora Folheando (seria inevitável não nos citarmos, pois acreditamos
na nossa proposta editorial), e Editora Empíreo. Ambas de Belém.
GIROTTO: Além da Pará.grafo, posso citar a Editora Folheando, do Douglas Oliveira, e a Editora Empíreo, do Filipe Larêdo. Ambas com excelentes trabalhos não só da literatura paraense, mas brasileira.
* * *
É isso aí, pessoal. Quem é leitor e amazônida deve imaginar o quanto as pequenas editoras ralam para se manterem ativas, mesmo com trabalhos de muita qualidade, como é o caso das editoras Pará.grafo e Folheando. Não deixem de conhecer e incentivar a literatura produzida na nossa região. Leia autores e editoras paraenses, amazônidas, da nossa cultura!
Por hoje ficamos por aqui. Até a próxima! :-)
Estão de parabéns! Muito sucesso aos dois jovens editores. 👏👏
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